domingo, 18 de fevereiro de 2024

O CORONEL E O MENINO

 



Vô-le contá um causo assucedido lá pras banda dos Inhamuns, no interior do Ceará. O causo é o siuguinte e o siuguinte é eche:

Uma feita, vinha um pade em riba duma burrinha já cansadinha da viagem. Os dois, o pade e a burra, a burrinha e o pade, viajavam debaixo dum sol que era tão quente que nem brasa acesa, que nem fornalha.

O CORONEL E A BARATA

 



Lá no sertão, naqueles tempos, tinha um coronel muito do estribado dos cobres, dono de muitas terras a perder de vista, muito proseador, sabe-tudo, bravateiro até o meio das canelas. Orgulhoso e valentão que nem o Mata-Sete. Só porque tinha dinheiro metido nos cós, ele achava que mandava em todo mundo. E mandava mesmo.

Num tinha nada que ele num soubesse. Metia o bedelho em tudo o que não lhe dizia respeito, ralhava com tudo e com todos, dava palpite até nas coisas das mulheres. Porque tem assunto de mulher que os homens num entende nem que a vaca tussa, mas o coronel, esse sim, sabia de tudo. Num tinha um assunto que ele num botasse a colher.

O LAMENTO ATRAVÉS DA JANELA

 


Como fazia todos os sábados, lá pelas onze horas, onze e meia, o velho advogado chegava ao bar  e sentava numa mesa - quase cativa - bem em frente à janela, de onde se podia ver, com folga, a praça da Matriz. O dono do bar, seu Alfredo, gostava dele. Servia-o sempre o mesmo: uma garrafa de zinebra do Conde, “Gato Preto” e uma porção de queijo com azeitonas. Como aquele horário tinha pouco movimento, ele e seu Alfredo conversavam sobre quase tudo: mulheres, futebol e política, principalmente.

À medida que o bar ia enchendo, a mesa do velho advogado ficava repleta de gente, amigos e conhecidos que lhe vinham cumprimentar e ali, muitas vezes, entabulavam conversas e debates político-filosóficos que varavam toda a tarde.

A MENINA - Uma história insólita


Um homem sentado no banco da praça, absorto com o seu jornal, não se deu conta quando aquela mulher se aproximou dele, sorrateira, com um bebê nos braços e de mãos dadas com ela, uma menina de pouco mais de cinco anos. A mulher tocou-lhe suavemente no ombro dele e disse em voz definhada e meio rouca:

- O senhor poderia olhar essa menina, enquanto eu vou até aquela farmácia? – Apontou para o outro lado da praça, estendendo a mão mirrada.

O RETRATO

 




Minha tia tinha segredos. Ela guardava cuidadosamente embrulhado em um delicado tecido rendado, um retrato emoldurado dentro de um baú velho, passado à sete chaves, escondido debaixo da cama. Ninguém, nem mesmo o marido, meu tio, sabia de quem era a dita foto emoldurada que ela venerava com tanto afinco.

Meu tio não se ocupava sequer em querer saber de quem era a foto misteriosa. Era um homem que lidava com o gado e passava a maioria do tempo dentro dos currais e dos estábulos, não se interessando por caprichos de mulheres. Ele até fazia troça com aquela história.

- Deve ser a minha foto pra espantar as muriçocas! – Dizia galhofando, em estrondosa gargalhada.

O SANTO - Um conto estranho

 


“É preciso que se saiba que, tudo o que vemos ou pensamos que vemos, não passa de um sonho dentro de um sonho”.  Edgar Allan Poe
Quando conheci o professor Serafim, ele já não estava mais em seu perfeito juízo, como diriam alguns, mas ao vê-lo naquela situação de aparente demência senil, percebi o quanto estavam enganados. O que ele me contou, em segredo, ficou escrito aqui neste caderno, para que sirva de advertência para os descrentes, embora saibamos que muitos não levarão a sério, até que seja tarde demais.

AGORA TE VEJO

 

Eu era estudante de enfermagem e vez por outra, prestava serviços em ambulatórios e clínicas médicas, a fim de ganhar um extra.


Havia um médico muito conceituado que requisitou meus serviços e, naquele fatídico dia, no instante momento em que entrei no consultório dele, deparei-me imediatamente com um jarro em cima da mesa.

Olhei mais de perto e vi uma espécie de planta, talvez um cacto, talvez. A planta tinha crescido e as folhas estavam sobre os seus papeis, enroscando-se sobre as coisas.

O CORONEL E O MENINO

  Vô-le contá um causo assucedido lá pras banda dos Inhamuns, no interior do Ceará. O causo é o siuguinte e o siuguinte é eche: Uma feita, v...