Na região dos Inhamuns, nos confins dos sertões do Ceará, existe uma pequena localidade chamada “Pau do Véi”. Perdida no meio da caatinga, na verdade não passa de um pequeno aglomerado de casinhas de taipa onde pequenos agricultores, castigados pela seca indomável, resistem, resistem, resistem.
O nome “Pau do Véi” é antigo. Dos tempos já idos e esquecidos. Os moradores sequer sabem sua origem. Se perguntados ouve-se uns “sei lá”, “num sei não” e “diabo-é-que-sabe”!
Nos anos oitenta estive de passagem por Arneiroz, (cujo topônimo Arneiroz vem da corruptela de arenaríola do Português da época medieval e significa terreno estéril ou arenoso) e me interessei em fazer uma pequena pesquisa para saber a origem do nome “Pau do Véi”. Perguntei aqui e ali e sempre me respondiam com evasivas.
Conheci um senhor bem distinto chamado Valdeci, ou melhor, Professor Valdeci, como gostava de ser chamado. Era tido como um grande conhecedor da história daquelas plagas. Ele me disse com bastante autoridade que esse topônimo se referia a um velho português, que no século XVIII tinha um matadouro e comprava muita lenha. Como ele pagava bem, o povo estocava muita madeira à espera do dito cujo. Quando alguém passava e via aquele monte de lenha empilhada na frente das casas comentava em tom jocoso: “Esse aí tá cheio do pau do véi”!
No entanto, em minhas andanças, conheci uma senhora já com seus 99 anos ou mais, dona Déda, neta de escravos, que me contou outra versão, até mais credível.
Bem lúcida, contou-me que naqueles tempos, existia ali, bem no local, uma fazenda onde vivia um velho muito rico e já enviuvado “uma penca de vez”. Foi quando ele se engraçou duma menina das redondezas que já tinha completado quatorze anos. “Ora, naquele tempo o homem casava com as meninas novinhas, pois assim era o costume”. O velho foi ter com o pai dela e lhe propôs casamento. O pai humilde e pobre aceitou no ato e providenciaram o casamento. Teve a lua-de-mel e quando eles voltaram da viagem, as outras moças ficaram curiosas para saber com tinha sido a primeira noite. Foi quando a moça, ingênua, disse em sua inocência:
“MADRINHA, Ô COISA FEIA É O PAU DUM VÉI”!
Bastou isso para a história se espalhar pela caatinga inteira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário